27 julho, 2013

Deixa-a saber que tu percebes que as palavras são amor...


Namora uma mulher que lê. Namora uma mulher que gaste o dinheiro dela mais em livros do que em roupas. Ok, ela se perde um pouco na arrumação da casa, mas é porque tem livros demais. Namora uma moça que tenha uma lista de livros pra ler, que tenha uma carteirinha da biblioteca desde a primeira infância.

Encontra uma mulher que lê. Vais saber que é ela, porque anda sempre com um livro dentro da bolsa. É aquela que percorre amorosamente as estantes da livraria, aquela que dá um gritinho surdo ao encontrar o livro procurado. Vês aquela moça com ar estranho, cheirando as páginas de um livro velho, numa loja de livros de segunda mão? É a leitora. Para ela, o cheiro das páginas, sobretudo quando ficam amarelas, é perfume!

Ela é a garota que lê enquanto espera no café ao fundo da rua. Se espreitares a xícara, percebes que o calor já se foi, perdidos, os dois, ela e o café, em um mundo feito pelo autor. Senta. Admira-a de relance, porque a maior parte das mulheres que lêem não gostam de ser interrompidas. Oferece-lhe outra xícara de café.

Diz-lhe o que realmente pensas do Murakami. Descobre se ela foi além do primeiro capítulo da Irmandade. Pergunta-lhe se gosta de Clarice. Ou se gostaria de ser Alice.

É fácil namorar uma moça que lê. No seu aniversário, no Natal e em datas especiais, dê-lhe livros. Ofereça-lhe palavras como presente, em poemas, em canções. Ofereça-lhe Neruda, Pound, Sexton, cummings. Deixa-a saber que tu percebes que as palavras são amor. Que sabes a diferença entre os livros e a realidade.

Minta. Uma vez, duas, deslavadamente. Se ela compreender a sintaxe, vai perceber a tua necessidade de mentir. Atrás das palavras existem outras coisas: motivação, valor, nuance, diálogo. Nunca será o fim do mundo. 

Trate de desiludi-la. Porque uma mulher que lê compreende que o fracasso conduz sempre ao clímax. E que todas as coisas chegam ao fim. Que sempre há a possibilidade de se escrever uma sequência. Que pode-se começar outra vez e outra vez e continuar a ser o herói. Que na vida é suposto existir um vilão ou dois.

Temes que ela descubra tudo o que não és? As mulheres que lêem sabem que as pessoas, tal como as personagens, evoluem [exceto na saga Crepúsculo]. E quando a vires acordada às duas da manhã, chorando, com um livro contra o peito, envolva-a com um abraço. Prepara-lhe um chá. Podes perdê-la por uma ou duas horas, mas ela volta para ti.

Quando menos perceberes, já está: alugas um balão de ar quente e te declaras. Ou durante um concerto de rock. Ou, casualmente, na próxima vez que ela estiver doente, pelo skype. Vais sorrir tanto que te perguntarás por que é que o teu coração ainda não explodiu e espalhou sangue por todo o peito. Juntos, vão escrever a história das suas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos ainda mais estranhos. Ela vai apresentar aos seus filhos o Gato de Botas e Aslam - talvez no mesmo dia. Vão atravessar juntos os invernos da velhice e ela recitará Keats, num sussurro, enquanto tu sacodes a neve das botas.

Namora uma mulher que lê, porque tu mereces. Mereces uma mulher que te pode dar a vida mais colorida que consegues imaginar. A não ser que prefiras a monotonia, horas requentadas, propostas meia-boca... Mas se queres o mundo e os mundos que estão para além do mundo, então, namora uma mulher que lê. 

Ou, melhor ainda, namora uma mulher que escreve."


* do original Date a girl who reads, de Rosemary Urquico [adaptado da versão portuguesa "Namora uma Rapariga que Lê"]. ** e gata, não seja assim tão literal: se seus olhos conduzem-na biblicamente para meninos, ótimo! não se reprima! namora um homem que lê. ou, melhor ainda, um que escreva.

26 julho, 2013

O ex-estranho





"Nunca sei ao certo
Se sou um menino de dúvidas
Ou um homem de fé

Certezas o vento leva
Só dúvidas continuam de pé."


Paulo Leminski em “O ex-estranho”

Razão de ser.


Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece, 
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Paulo Leminski

Nem tudo é fácil


É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste.
É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nada.
É difícil ser fiel, assim como é fácil se aventurar.
É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre.
É difícil agradecer pelo dia de hoje, assim como é fácil viver mais um dia.
É difícil enxergar o que a vida traz de bom, assim como é fácil fechar os
olhos e atravessar a rua.
É difícil se convencer de que se é feliz, assim como é fácil achar que
sempre falta algo.
É difícil fazer alguém sorrir, assim como é fácil fazer chorar.
É difícil colocar-se no lugar de alguém, assim como é fácil olhar para o
próprio umbigo.
Se você errou, peça desculpas…
É difícil pedir perdão?
Mas quem disse que é fácil ser perdoado?
Se alguém errou com você, perdoa-o…
É difícil perdoar?
Mas quem disse que é fácil se arrepender?
Se você sente algo, diga…
É difícil se abrir?
Mas quem disse que é fácil encontrar alguém que queira escutar?
Se alguém reclama de você, ouça…
É difícil ouvir certas coisas?
Mas quem disse que é fácil ouvir você?!
Se alguém te ama, ame-o…
É difícil entregar-se?
Mas quem disse que é fácil ser feliz?!
Nem tudo é fácil na vida…
Mas, com certeza, nada é impossível…
Precisamos acreditar, ter fé e lutar para que não apenas sonhemos,
Mas também tornemos todos estes desejos realidade!

              Cecilia Meireles

20 julho, 2013

20 de julho, dia do amigo (L)


"Eu talvez não tenha muitos amigos

Mas os que eu tenho são os melhores 
que alguém poderia ter. 

Além disso tenho sorte, porque os 
amigos que tenho têm muitos 
amigos e os dividem comigo. 
Assim o meu número de amigos sempre 
aumenta, já que eu sempre ganho 
amigos dos meus amigos. 
Foi assim aqui, uns eu ganhei há tempos, 
outros são mais recentes. 
E quem os deu não ficou sem eles, 
pois a amizade pode sempre ser 
dividida sem nunca diminuir
ou enfraquecer. 
Pelo contrário, quanto mais dividida,
mais ela aumenta. 
E há mais vantagens na amizade: 
é uma das poucas coisas que não
custam nada e valem muito,
embora não sejam vendáveis. 
Entretanto, é preciso que se cuide um 
pouco das amizades. As mais recentes, 
por exemplo, precisam de alguns cuidados.
Poucos, é verdade, mas indispensáveis. 
É preciso mantê-los com um
certo calor,falar com eles mais 
amiúde e no início, com muito jeito. 
Com o tempo eles crescem, ficam 
fortes e até suportam alguns trancos. 
Os mais antigos, já sólidos, não exigem
muito, são como as mudas das plantas,
que depois de enraizadas, parecem 
poder viver sem cuidados, porém não 
podem jamais ser esquecidas. 
Algo é preciso para mantê-las vivas. 
Prezo muito minhas amizades e 
reservo sempre um canto no
meu peito para elas. 
E, sempre que surge a ocasião, também
não perco a oportunidade de dar um 
amigo a um amigo, da mesma forma 
que eu ganhei vocês. 
E não adiantam as despedidas. 
De um amigo ninguém se livra fácil. 
A amizade além de contagiosa
é totalmente incurável."

Vinícius de Moraes

17 julho, 2013

Romance em doze linhas.


[romance em doze linhas]

“quanto falta pra gente se ver hoje
quanto falta pra gente se ver logo
quanto falta pra gente se ver todo dia
quanto falta pra gente se ver pra sempre
quanto falta pra gente se ver dia sim dia não
quanto falta pra gente se ver às vezes
quanto falta pra gente se ver cada vez menos
quanto falta pra gente não querer se ver
quanto falta pra gente não querer se ver nunca mais
quanto falta pra gente se ver e fingir que não se viu
quanto falta pra gente se ver e não se reconhecer
quanto falta pra gente se ver e nem lembrar que um dia se conheceu." 

Do livro Rua da Padaria, Bruna Beber.

15 julho, 2013

Já entrei contigo em comunicação tão forte...


"Já entrei contigo em comunicação tão forte que deixei de existir sendo. Tu tornas-te um eu. É tão difícil falar e dizer coisas que nunca podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real, entre nós dois. Dificílimo contar: olhei pra você por uns instantes, tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita..Eu chamo isso de estado agudo de felicidade."

Clarice!

13 julho, 2013

Algumas...


Incrível como eu olho esse blog e consigo saber exatamente o que se passava dentro de mim, em quase todas as postagens, o porquê de quase todas elas. Muito bom reviver, reviver pela poesia.
Algumas repetidas e que tocam fundo, principalmente a do  livro "A Princesa - Maquiavel para Mulheres - de Harriet Rubin", esse é um daqueles livros que mudam muito as nossas verdades.


O guerreiro da luz - sem querer - dá um passo em falso e mergulha no abismo.
Os fantasmas o assustam, a solidão o atormenta. Como procurou o Bom Combate, não pensava que isto fosse acontecer com ele; mas aconteceu. Envolto pela escuridão, ele se comunica com seu mestre.
"Mestre, cai no abismo", diz. "As águas são fundas e escuras."
"Lembra-te de uma coisa", respondeu o mestre. "O que afoga alguém não é o mergulho, mas o fato de permanecer debaixo d'água."
E o guerreiro usa as suas forças para sair da situação em que se encontra.
Paulo Coelho - MANUAL DO GUERREIRO DA LUZ - pág 84

Por favor, não me analise
Não fique procurando
cada ponto fraco meu
Se ninguém resiste a uma análise
profunda, quanto mais eu!
Ciumenta, exigente, insegura, carente
toda cheia de marcas que a vida deixou:
Veja em cada exigência
um grito de carência,
um pedido de amor!
Amor, amor é síntese,
uma integração de dados:
não há que tirar nem pôr.
Não me corte em fatias,
(ninguém abraça um pedaço),
me envolva todo em seus braços
E eu serei perfeita, amor!
(Bom dia amor, Mirthes Mathias, Juerp, 1990)

"A melhor definição do amor não vale um beijo."
(Machado de Assis)

"Nosso grande medo não é o de que sejamos incapazes. Nosso maior medo é que sejamos poderosos além da medida. É nossa luz, não nossa escuridão, que mais nos amedronta. Nos perguntamos "Quem sou eu para ser brilhante, atraente, talentoso e incrível. Na verdade, QUEM É VOCÊ PARA NÃO SER ISSO TUDO? Bancar o pequeno não ajuda o mundo. Não há nada de brilhante em encolher-se para que as outras pessoas não se sintam inseguras em torno de você. É A MEDIDA QUE DEIXAMOS NOSSA PRÓPRIA LUZ BRILHAR, INCONSCIENTEMENTE DAMOS ÀS OUTRAS PESSOAS PERMISSÃO PARA FAZER O MESMO."

Citado, e atribuído ao discurso de posse de Nelson Mandela, no livro:
 A Princesa - Maquiavel para Mulheres - de Harriet Rubin


07 julho, 2013

Admitir o fracasso.



Eu estava dentro do carro em frente à escola da minha filha, aguardando a aula dela terminar. A rua é bastante congestionada no final da manhã. Foi então que uma mulher chegou e começou a manobrar para estacionar o seu carro numa vaga ainda livre. Reparei que seu carro era grande para o tamanho da vaga, mas, vá saber, talvez ela fosse craque em baliza.

Tentou entrar de ré, não conseguiu. Tentou de novo, e de novo não conseguiu. E de novo. E de novo. Por pouco não raspou a lataria do carro da frente, e deu umas batidinhas no de trás que eu vi. Não fazia calor, mas ela suava, passava a mão na testa, ou seja, estava entregando a alma para tentar acomodar sua caminhonete numa vaga que, visivelmente, não servia. Ou, se servisse, haveria de deixá-la entalada e com muita dificuldade de sair dali depois. Pensei: como é difícil admitir um fracasso e partir para outra.

Para quem está de fora, é mais fácil perceber quando uma insistência vai dar em nada – e já não estou falando apenas em estacionar carros em vagas minúsculas, mas em situações variadas em que o “de novo, de novo, de novo” só consegue fazer com que a pessoa perca tempo. Tudo conspira contra, mas a criatura teima na perseguição do seu intento, pois não é do seu feitio fracassar.

Ora, seria do feitio de quem?

Todas as nossas iniciativas pressupõem um resultado favorável. Ninguém entra de antemão numa fria: acreditamos que nossas atitudes serão compreendidas, que nosso trabalho trará bom resultado, que nossos esforços serão valorizados. Só que às vezes não são. E nem é por maldade alheia, simplesmente a gente dimensionou mal o tamanho do desafio. Achamos que daríamos conta, e não demos. Tentamos, e não rolou. “De novo!”, ordenamos a nós mesmos – e, ok, até vale insistir um pouquinho.

Só que nada. Outra vez, e nada. Até quando perseverar? No fundo, intuímos rapidinho que algo não vai dar certo, mas é incômodo reconhecer um fracasso, ainda mais hoje em dia, em que o sucesso anda sendo superfaturado por todo mundo. Só eu vou me dar mal? Nada disso. De novo!

De-sis-ta. É a melhor coisa que se pode fazer quando não se consegue encaixar um sonho em um lugar determinado. Se nada de positivo vem desse empenho todo, reconheça: você fez uma escolha errada. Aprender alemão talvez não seja para sua cachola. Entrar naquela saia vai ser impossível. Seu namorado não vai deixar de ser mulherengo, está no genoma dele. Você irá partir para a oitava tentativa de fertilização?

Adote. E em vez de alemão, tente aprender espanhol. Troque a saia apertada por um vestido soltinho. Invista em alguém que enxergue a vida do seu mesmo modo, que tenha afinidades com seu jeito de ser. Admitir um fracasso não é o fim do mundo. É apenas a oportunidade que você se dá de estacionar seu carro numa vaga mais fácil e que está logo ali em frente, disponível.

Martha Medeiros